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Mesmo não sendo de amplo conhecimento, crianças e adolescentes sofrem de depressão. A depressão, que sempre foi conhecida como uma doença presente somente em adultos, também acomete os jovens, afetando cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes em todo o mundo.
Devido ao fato de os sintomas nessa faixa etária serem confundidos com malcriação, pirraça, mau humor, tristeza e agressividade, a depressão fica mais difícil de ser diagnosticada.
A depressão infantil, na maioria dos casos, manifesta-se a partir de uma situação traumática, como separação dos pais, mudança de escola, morte de uma pessoa querida ou animal de estimação.
QUADRO CLÍNICO
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As formas de expressão dos sintomas da depressão variam de acordo com a faixa etária que a criança se encaixa.
Em crianças de até 6 a 7 anos de idade, a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores (principalmente de cabeça e abdominais), fadiga e tontura. Esses sintomas são acompanhados por irritabilidade, ansiedade, agitação psicomotora ou hiperatividade, fobias, alteração do sono e diminuição do apetite.
Em crianças escolares (7 até 12 anos) o humor depressivo já pode ser expressado verbalmente e é relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. Apresentam aparência triste, apatia, choro fácil, exaustão, solidão, desempenho escolar fraco, podendo chegar à rejeição escolar, ansiedade, fobias e desejo de morrer. É comum a criança não ter amigos, dizer que os colegas não gostam dela ou apresentar afeto exclusivo e excessivo a animais.
A manifestação da depressão em adolescentes costuma apresentar sintomas semelhantes ao dos adultos. Apresentam-se principalmente irritáveis e instáveis, podendo ocorrer crises de estouro e raiva. Além disso, apresentam perda de energia, desinteresse, retardo psicomotor, sentimentos de desesperança e culpa, perturbações do sono, alteração do apetite e peso, isolamento e dificuldade de concentração. Outras características desta fase são o prejuízo no desempenho escolar, a baixa autoestima, as ideias e tentativas de suicídio e graves problemas de comportamento, principalmente o uso abusivo de álcool e drogas.
DIAGNÓSTICO
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O diagnóstico ainda ocorre com grandes dificuldades, pois o quadro traz a presença de comorbidades e os sintomas manifestam-se muitas vezes de forma mascarada. Além disso, pelo fato de a criança ou o adolescente não conseguirem identificar ou nomear os sintomas que aparecem de maneira variada, ocorre a restrição do diagnóstico preciso.
Além do diagnóstico clínico, deve-se fazer exames para verificar a presença de outras causas para os sintomas.
O médico diagnostica um transtorno depressivo quando a criança ou o adolescente apresenta um ou ambos dos quesitos a seguir: sentimento de tristeza ou irritabilidade e perda do interesse ou prazer em quase todas as atividades.
Ainda, a criança precisa ter esses sintomas na maior parte do dia quase todos os dias durante um período contínuo de duas semanas e ela deve ter outros sintomas de depressão, como perda do apetite, perda de peso e insônia.
FATORES DE RISCO
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A existência de história familiar para depressão aumenta a chance de a criança também apresentar em pelo menos três vezes. Sendo assim, a presença de depressão nos pais é o fator de risco mais importante. Diante disso, pesquisas mostram que crianças que convivem com pessoas que tendem a ter uma visão pessimista, como pais ou avós, elas tendem a serem influenciadas na formação de sua personalidade.
Além desse importante fator de risco, os ambientes estressantes e desfavoráveis contribuem fatalmente para desencadear um episódio depressivo em crianças e adolescentes. Este ambiente podem ser: família desestruturada ou que estejam passando por dificuldades, escola que reprime e pune a criança, exigências e demandas da sociedade.
SUICÍDIO
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O fato mais importante do quadro clínico da depressão em jovens é o suicídio, sendo uma manifestação dramática e muito grave. Nas últimas décadas, os comportamentos suicidas entre essa faixa etária vêm aumentando e, o período com maior índice de tentativa ou execução desse ato é na adolescência, sendo seguido por crianças escolares. Diante disso, as tentativas de suicídio e o suicídio aumentam com a idade, tornando-se comum após a puberdade.
São considerados fatores de risco para comportamento suicida na infância e adolescência: idade, presença de tentativas antecedente, história familiar de transtornos psiquiátricos, ausência de apoio familiar, depressão, presença de arma de fogo em casa e abuso de substâncias.
Como precipitantes do comportamento suicida nessa faixa etária encontram-se: perdas, crises interpessoais com família ou amigos, estressores psicossociais, abuso físico e sexual, problemas legais ou disciplinares, e a exposição ao suicídio de amigos, familiares ou mesmo através da mídia.
É importante o clínico conhecer os fatores de risco e os fatores precipitantes para que ele possa fazer o encaminhamento adequado ao especialista.
TRATAMENTO
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O tratamento do transtorno depressivo é feito baseado na classificação da gravidade, realizada por meio dos critérios diagnósticos.
O transtorno depressivo classificado como forma leve, deve ser tratado com psicoterapia individual e orientação aos pais. Para o transtorno depressivo com quadro clínico moderado, devem ser iniciadas a psicoterapia, a orientação aos pais e à escola e aguardada a evolução para se avaliar a necessidade ou não da introdução de fármacos. No transtorno depressivo grave, indicam-se os antidepressivos associados à terapia não medicamentosa.
A psicoterapia é importante para identificar e mudar os pensamentos negativos e adulterado da criança, a chance de interpretação de forma pessimista dos acontecimentos e sua baixa autoestima. Nessa terapia, ocorre o estímulo à expressão se sentimentos, dúvidas e medos.
O tratamento medicamentoso é feito preferencialmente pelos antidepressivos das classes ISRS e tricíclicos, responsáveis por melhorar a qualidade do humor do paciente, aumentando a sensação de prazer, energia, disposição e reduzindo a variação de humor, irritabilidade e fadiga. O uso desses medicamentos é seguro e a eficácia já foi comprovada por vários estudos.
A participação familiar é de extrema importância para o sucesso do tratamento do jovem e para evitar recaídas. A família é incentivada a conhecer o distúrbio psicológico do jovem, assim como mudar sua postura em relação a pensamentos negativos que possam ser absorvidos pela criança.
REFERÊNCIAS:
Barbosa G. Depressão infantil. Infanto- Rev Neuropsiq da inf e adol. 3 (2): 23-30, 1995.
Cruvinel M. Depressão infantil: uma contribuição para a prática educacional. Psicol esc educ. v7. Campinas: 2003.
Nakamura E. Depressão infantil: abordagem antropológica. São Paulo: USP, 2004.
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