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Fatores de risco para depressão

Essa patologia é particularmente preocupante por ser altamente incapacitante e pelo risco inerente de suicídio associado a ela que acomete cerca de 10% a 15% dos pacientes com depressão grave. Por isso, é importante reconhecer e tratar os sintomas depressivos em tempo hábil, devendo-se avaliar e acompanhar a resposta ao tratamento.

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De acordo com o livro DSM-5, que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais usado, principalmente, pelos profissionais da medicina, os fatores de risco para depressão podem ser divididos em classes diferentes citadas abaixo:

1. Temperamentais e psicológicas:​

  • Afetividade negativa (neuroticismo): é a tendência para experienciar emoções negativas, como raiva, ansiedade, tristeza, ou seja, agir de forma negativa. Essa característica também pode ser chamada de instabilidade emocional. Indivíduos com um alto grau de afetividade negativa são emocionalmente reativos e vulneráveis ao estresse. Esse traço também pode ser herdado geneticamente.

É um fator de risco bem estabelecido para o início do transtorno depressivo maior (depressão), e níveis elevados parecem aumentar a probabilidade dos pacientes desenvolverem episódios depressivos em resposta a eventos estressantes na vida.

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  • Morte ou perda de ente querido: a tristeza ou luto que provem da morte ou perda de uma pessoa amada, mesmo sendo uma reação natural, pode aumentar os riscos de desenvolver depressão.

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  • Eventos de grande importância e relevância: Podem ser eventos positivos ou negativos. Os eventos negativos como: términos de relacionamento amoroso, ficar desempregado, divórcios e aposentadorias podem ser prejudiciais. Algumas vezes, até eventos positivos como: iniciação em novo emprego, formatura ou casamento podem deixar o indivíduo sob grande pressão e responsabilidade e aumentam o risco para depressão.

  • Problemas de cunho pessoal: pode ocorrer o isolamento a partir de desentendimentos com os grupos sociais que frequenta na faculdade, na igreja, nas redes sociais e/ou também pelos familiares que após discussão ou briga banem o indivíduo das reuniões de família e relacionados. Todas essas situações podem contribuir para o surgimento da depressão.

2. Ambientais

  • Experiências adversas na infância: exposição a eventos traumáticos como Sofrer abuso físico, sexual ou emocional. Particularmente quando existem múltiplas experiências de vários tipos diferentes, constituem um conjunto de fatores de risco potenciais para transtorno depressivo maior.

  • Medicações específicas: o uso de algumas medicações que contém elementos químicos, como a Isotretinoína (usada para tratar a acne), o antiviral interferon alfa, e o uso de corticoides, podem aumentar o risco de desenvolver depressão.

  • Fator estressor: Quando existe no ambiente a exposição repetida a um fator que desencadeia estresse no paciente. É mais frequente ser a causa do primeiro episódio de depressão.

  • Cultura: de acordo com pesquisas recentes em várias culturas em diferentes países, pode se encontrar diferenças de até 7 vezes nas taxas de prevalência. Entretanto esses achados não permitem a associação entre culturas e a probabilidade de sintomas específicos.

  • Abuso de substâncias: um número em torno de 30% das pessoas com vícios em substâncias lícitas (álcool, cigarro, medicações) ou ilícitas (drogas), apresentam depressão clínica ou profunda. O abuso aumenta significativamente os riscos de desenvolver depressão ao longo do tempo.

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3. Genéticos e fisiológicos

  • Genética: estudos indicam que as pessoas que tem um parente de primeiro grau com depressão tem de 2 a 3 vezes mais chances de ter a doença. Esses riscos relativos podem ser ainda mais altos para as formas de depressão de início precoce e recorrente.

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Se um parente de primeiro grau tiver transtorno afetivo bipolar a chance de ter depressão é multiplicada de 8 a 18 vezes mais.

  • Gene do transportador da serotonina: existe um gene produtor de uma proteína que transporta serotonina na sinapse nervosa. Algumas pessoas que possuem defeito nesse gene podem apresentar problemas no transporte de serotonina e apresentar sintomas de depressão.

  • Deficiência de metilfolato: o metilfolato é a forma ativa de uma das vitaminas do complexo B (B9) encontrada em: vísceras de animais, verduras de folha verde, legumes, frutos secos, grãos integrais e levedura de cerveja. Quando há uma redução dessa vitamina também haverá diminuição da produção de serotonina, que está envolvida nos processos de sinapse nervosa. Esse desequilíbrio pode gerar os sintomas de depressão. A deficiência pode ocorrer em decorrência de redução ou inexistência de coenzimas envolvidas na ativação do ácido fólico em metilfolato. Entretanto também ocorre nos casos de dieta pobre em ácido fólico.

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  • Excesso de cortisol: pode danificar o hipocampo que é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro. As memorias ficam armazenadas principalmente nesse local e além disso, é considerado um importante componente do sistema límbico. Esse sistema por sua vez, é a unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais.

O que é cortisol? É um hormônio esteróide diretamente envolvido na resposta ao estresse. É produzido e liberado em resposta ao estresse. Ele ativa respostas do corpo diante de situações de emergência para ajudar na resposta física aos problemas. Para isso, causa o aumento da pressão arterial e da glicose no sangue, e desse modo, propicia energia para os músculos. Ao mesmo tempo, ele faz com que todas as funções anabólicas (construção) de recuperação, renovação e criação de tecidos fiquem paralisadas. Assim o organismo se concentra na sua função catabólica (destruição) para a obtenção de energia. Ademais, também reduz o sistema imune através da redução das células de defesa inibindo a produção, redução da atividade fagocitária e bactericida. Logo, toda a imunidade mediada por células fica deprimida.

4. Modificadores do curso

  • Transtornos maiores não relacionados ao humor: elevam as chances do paciente desenvolver depressão. Os episódios depressivos maiores que se desenvolvem a partir de outros transtornos prévios (Uso de substâncias, ansiedade e transtorno da personalidade borderline são os mais comuns) do paciente quase sempre, são mais refratários, diferente do curso normal, e desse modo, tornam-se mais difíceis de tratar.

  • Condições médicas crônicas ou incapacitantes: aumentam os riscos de episódios depressivos maiores. Patologias prevalentes como Diabetes Melitus, obesidade mórbida e doenças cardiovasculares são frequentemente complicadas por episódios depressivos. A partir disso, os episódios têm mais probabilidade de mudarem o curso para se tornarem crônicos do que os episódios depressivos em indivíduos sem comorbidades previas.

Prevenção da depressão

A principal prevenção que deve ser realizada para os quadros de depressão é a mudança nos hábitos de vida. O paciente precisa manter uma dieta saudável, instituir atividades de lazer, manter o ambiente em que vive mais organizado e sem fatores estressores, fazer o tratamento para outros transtornos mentais e comorbidade pré-existentes, além de praticar exercícios físicos regularmente.

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O exercício físico e a atividade física podem ser um coadjuvante na prevenção e no tratamento da depressão. Através deles, é possível promover a redução dos sintomas depressivos nos indivíduos sem comorbidade e a prevenção da doença. Ademais, são diversos os benefícios a curto e longo prazo que o paciente adquire com a prática, como: melhora no condicionamento físico; redução da perda de massa óssea e muscular; aumento da força; melhora na coordenação motora e no equilíbrio; redução da intensidade dos pensamentos negativos; redução de outras comorbidades, bem como, o controle das pré-existentes; e promoção da melhoria do bem-estar e do humor.

Atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto energético maior do que o dos níveis de repouso. Já o exercício é uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem como objetivo final ou intermediário aumentar ou manter a saúde/aptidão física (MORAES, v. 29, n. 1, p. 70-9, 2007).

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Outra forma de prevenção recomendada é a realização de psicoeducação. Ela pode ser feita através projetos contínuos, (em escolas, faculdades, locais de trabalho, etc.) que sensibilizam os pacientes para os riscos de transtornos mentais, e principalmente, depressão.

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Além disso, dentro desse contexto também deve ser estimulada a participação em grupos voltados para a depressão. Considerando que, atualmente, os pacientes estão de forma alarmante expostos aos fatores de risco, os grupos com esse foco de prevenção podem ser importante método de redução da frequência de aparecimento de episódio depressivo e da gravidade desses sintomas.

2. Prevenção de recaídas

2.1. Prevenção da depressão pós AVC

Alguns estudos sugerem a seguinte comprovação: nos casos de pacientes que tem um episódio de AVC, os que são tratados com escitalopram são 4,5 vezes menos propensos a desenvolver depressão do que os pacientes que receberam.

2.2. Prevenção de recaídas e recorrências depressivas através da Terapia cognitiva-comportamental

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Considerando que a depressão para a grande maioria dos indivíduos é uma condição crônica ou recorrente, tem se pensando que a questão de que a capacidade de uma intervenção de prevenção da volta dos sintomas após o fim do tratamento é tão importante quanto sua capacidade de tratar o episódio vivido atualmente pelo paciente.

A terapia cognitivo comportamental é estruturada e atua principalmente no presente. Ela pode ajudar o paciente a ser o seu próprio terapeuta, atuando sobre pensamentos automáticos, e a partir disso, influenciando todo o caminho até o comportamento. O paciente aprende a lidar com os problemas e como reagir diante deles, e isso, reduz consideravelmente as recaídas.

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3. Prevenção ao suicídio

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A mortalidade por suicídio está aumentando de forma significativa nos últimos anos, situando-se entre as 10 principais causas de morte. Ele aflige todas as faixas etárias, e é mais frequente em adolescentes e adultos jovens. Este fenômeno representa um sério problema de saúde pública, além de uma grave tragédia pessoal.

Os pensamentos de morte recorrentes e a ideação suicida fazem parte dos critérios de diagnóstico de depressão de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Esses sintomas da doença não significam depressão grave, mas significa que podem ocorrer na depressão de qualquer intensidade, revelando-se ainda mais importante a sua prevenção

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De acordo com dados do Centro de Valorização da Vida, em uma sala com 30 pessoas, 5 delas já pensaram em suicídio. Além disso, também informa que 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida. São dados alarmantes, principalmente se pensarmos nos índices diários: 25 brasileiros morrem por dia vítimas de suicídio, 1 pessoa suicida a cada 40 segundos no mundo.

A partir dessas informações, torna-se claro, a grande necessidade de ações no campo da prevenção que objetivem a diminuição dos índices de tentativas e de suicídios completados. Logo, existem as recomendações do plano nacional de prevenção apresentadas que podem ser agrupadas em três aspectos fundamentais:

  1. Ampliação da conscientização da comunidade acerca do suicídio e seus fatores de risco;

   2. Intensificação de programas e serviços de conscientização e de assistência ao indivíduo em risco e;

   3. Ampliação e aprimoramento sobre o tema, de forma a aumentar o leque de recursos de prevenção e de ação sobre o suicídio.

3.1. Questões Relativas ao Gênero

Prevalência maior no sexo feminino.

Em mulheres, o risco de tentativas de suicídio é mais alto. Entretanto, elas quase sempre não são bem sucedidas nas tentativas, tendo o risco de suicídio completo mais baixo.

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Prevalência menor no sexo masculino.

O risco de suicídio também é mais baixo. Entretanto eles conseguem mais facilmente executar a tarefa por usarem formas mais violentas, tendo um risco de suicídio completo mais alto.

Apesar disso, não existem diferenças claras entre os gêneros quando se trata da manifestação de sintomas, curso da depressão, resposta ao tratamento ou consequências funcionais da patologia.

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Referências

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  4. DURGA, Jane et al. Effects of folic acid supplementation on hearing in older adults: a randomized, controlled trial. Annals of internal medicine, v. 146, n. 1, p. 1-9, 2007.

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  6. CHAVES, KEITLEN LARA LEANDRO; MAIA, Fernanda Alves; ALMEIDA, Maria Tereza Carvalho. Efeitos da deficiência e do excesso de vitaminas no organismo. Anais do VIII Fórum FEPEG, p. 24-27, 2014.

  7. DE SOUZA, Bruno Pinatti Ferreira; JUNIOR, Marco Antonio Abud Torquato; SOARES, Simone Maria de Santa Rita. Prevenção de depressão pós-AVC. Archives of Clinical Psychiatry, v. 37, n. 4, p. 182-182, 2010.

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  9. AMARAL, Geraldo Francisco do et al. Sintomas depressivos em acadêmicos de medicina da Universidade Federal de Goiás: um estudo de prevalência. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul, v. 30, n. 2, p. 124-30, 2008.

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  11. BOTEGA, Neury José et al. Prevenção do comportamento suicida. Psico, v. 37, n. 3, p. 5, 2006.

  12. BAHLS, Saint-Clair. Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes. Jornal de Pediatria, v. 78, n. 5, p. 359-366, 2002.

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